terça-feira, 28 de setembro de 2010

Cervejaria Carlos Bopp / Fábrica de Gelo e Cervejaria Bopp & Irmãos




No final do século XIX, Porto Alegre se destacava por ser uma espécie de capital da cerveja - havia 21 fabricantes, segundo o historiador Gunter Axt. A maior parte se localizava no bairro Floresta, onde a comunidade alemã traçou um novo perfil à região.

A principal avenida do bairro Floresta, começou a existir como Estrada da Floresta, que ligava o centro da cidade, onde havia um certo ordenamento social, mesmo incipiente, a um morro coberto de bela mata virgem. Pela localização, ao lado do Guaíba, o centro não tinha como se expandir e as pessoas, que chegavam mais a cada dia, foram procurando novas terras. A Estrada da Floresta foi um desses caminhos. Um local perfeito, porque a floresta era uma fonte de energia gratuita – muita lenha para os fogões. E aos empreendedores, matéria-prima para as madeireiras que descobriram aquela mina.

Com a abertura do Caminho Novo, essa zona passou a se integrar mais com a cidade. Era uma região bucólica, onde famílias abastadas mantinham suas chácaras. A floresta que deu nome ao bairro, diz o pesquisador, era a do atual Morro Ricaldone. Alemães e descendentes que chegavam à capital gaúcha instalaram serrarias, madeireiras e outras oficinas na área, usando essa vegetação.

E foi no Caminho Novo (atual Rua Voluntários da Pátria) próximo à Rua Ramiro Barcelos, em 6 de outubro de 1881, que nasceu mais uma precursora da Cervejaria Continental, a fábrica de cerveja do descendente de alemães Carl Bopp (Carlos), nascido em 1847 em Estância Velha e dono de uma fábrica de vidro e uma funilaria no bairro. Tendo se iniciado na fabricação de cerveja por acaso, a cervejaria nasceu de uma sugestão de sua esposa Maria Luisa, filha de um cervejeiro de Pelotas, que para reduzir o prejuízo de ter executado uma encomenda de uma caldeira (enorme tacho) que o cliente jamais fora buscar, a utilizasse para fazer cerveja. A mulher assumiu a produção, e nos fins de semana o marido colocava as garrafas num carrinho de mão para vender na vizinhança, a produção chegou a alcançar 150 garrafas.




Em 12 de dezembro de 1886, a Cervejaria Bopp se transferiu para o terreno da Rua da Floresta nº 11, atual Rua Cristóvão Colombo, próximo à Cervejaria Becker.




Rótulo registrado em 1896 com a marca Krupp da cervejaria Bopp & Cia trazendo representações de lúpulos e de cevadas dispostos simetricamente em volta de duas molduras ovais sobrepostas que servem de painel onde figura próximo a uma trincheira um soldado acionando um canhão marca Krupp, interessante trazer a inscrição "Pelotas", talvez alguma alusão à Revolta da Armada, onde a paz finalmente foi assinada em Pelotas no dia 23 de agosto de 1895.





De 30 de abril até 1º de dezembro de 1904, teve lugar a "Louisiana Purchase Exposition" (Exposição Internacional de St. Louis) em Saint Louis, Missouri, Estados Unidos da América, na qual a Carlos Bopp participou e sua cerveja recebeu como prêmio a medalha de bronze.

O sucesso da receita caseira foi tão grande que em 1907 a cervejaria que ficou conhecida como "Fabrica da Figueira" já era uma das mais importantes do país. Carlos Bopp gostava de dizer que quem tomava cerveja ficava forte como um elefante. Por isto, o grande animal passou a ser uma espécie de símbolo da família.

Em fevereiro de 1908, Bopp encomendou a construção de um prédio e um projeto industrial para a instalação de caldeiras à firma Steinmüller (provavelmente de Hamburgo, Alemanha) com as caldeiras propriamente ditas fornecidas pela firma J. Rech daquela cidade. Esse projeto foi reelaborado em agosto de 1908, por Hermann Otto Menchen arquiteto da firma de Ahrons, e construido junto aos prédios já existentes.

Em 1908, os três filhos do funileiro (Carlos, Arthur e Alberto) deram inicio à Cervejaria e Fábrica de Gelo Bopp & Irmãos.


Em abril de 1910 os irmãos Bopp decidiram construir um novo prédio, com 27 metros de frente por outros tantos de fundos e com previsão de aumento de mais 18 metros nos fundos, no terreno da Rua Cristóvão Colombo n° 545, 691 e 695, no bairro Floresta em Porto Alegre – RS.
No dia 6 de maio de 1910 o jornal Correio do povo, noticiava:
"...Cervejaria Bopp - Com o dr. Rudolph Ahrons, os industrialistas desta praça sr. Bopp & Irmãos contrataram a construção de um magestoso edificio para o funccionamento da cervejaria daquelle nome.
A rua Christovam Colombo (Floresta) ficará assim dotada de mais um predio digno di adiantamento desta capital. Como já tivemos occasião de noticiar, a Cervejaria Bopp vae desenvolver, em grande escala, a sua producão, de forma a poder attender à exportação para outros mercados nacionaes. Já está em viagem para a Allemanha, aonde chegará dentro de breves dias, o capitão Carlos Bopp Filho, que ali adquirirá machinismos modernos e outros pertences, de fórma a dotar o estabelecimento de todos os requisitos necessarios. Os trabalhos da construcão do novo edificio da fabrica dos srs. Bopp & Irmãos já foram encetados, sob inspeção immediata do dr. Rudolph Ahrons...".

Este prédio de tres andares foi projetado pelo arquiteto alemão Theodor Wiederspahn e construído por Rudolph Ahrons e decorado pela equipe de decoradores de João Vicente Friederichs, entre eles Alfred Adolff um dos maiores escultores decoradores de Porto Alegre. Conta com uma área de 42.000m2, decorado com lindas esculturas na sua fachada, foi o maior prédio de cimento armado do Brasil nesta época, composto por um piso superior contínuo que servia para armazenamento de matéria prima, na parte frontal do térreo, havia um pé-direito duplo e servia de expedição enquanto nos fundos, no térreo estavam os tanques de cerveja pronta que seria engarrafada no piso intermediário.

Mas o prédio ia além da funcionalidade: sua decoração externa não foi considerada mero detalhe, tanto que consumiu 10% do custo total da construção. A fachada funcionava como um gigantesco outdoor, que, por um lado, incentivava o consumo de cerveja e, por outro, afirmava os valores daquela nova elite que utilizaram a arquitetura de seus empreendimentos para afirmar sua posição social. A fábrica era considerada sinônimo de progresso, riqueza e civilização. Sendo assim aumentado e dotado de todos os recursos técnicos, imponente e com uma produção impressionante para a época – 30 mil garrafas por dia – produzindo as cervejas: Pielsen, Hercules, Elefante, Negrita, Comercial e ainda o Guaraná Continental a nova fábrica possuía um dínamo que fornecia toda a luz do edifício, um elevador de 15 metros de altura, hidráulica própria (com água captada do Rio Guaíba) e salas de análises químicas. Todo o maquinário era importado da Alemanha.

Em 1911 Carlos Bopp veio a falecer e neste mesmo ano em 27 de outubro, o segundo prédio da Cervejaria Bopp foi inaugurado.


Com o consequente aumento da produção, em maio de 1912, foram iniciados os projetos de construção de um aumento na casa de máquinas, de um grande tanque de água e de uma nova chaminé de 35 metros de altura que só foram concluidos com a chegada da nova maquinaria em meados desse ano.
Em junho de 1912 a firma Linde Maschinenfabrik A.G., de Wiesbaden foi encarregada do projeto da fábrica de gelo.
Para dar vazão a crescente demanda houve a necessidade de uma completa reformulação de toda a fábrica. Em maio de 1913 foi iniciado o projeto industrial de um novo prédio para caldeirões de cozimento na firma A. Ziemann, de Stuttgart, Alemanha, com projeto arquitetônico realizado na firma Bihl & Woltz, da mesma cidade, em julho de 1913 esse projeto foi complementado pela firma A. Ziemann com a adição de uma central de moagem de cereais realizada pela firma Schindler & Stein A.G. de Dresden, Alemanha. Além disso uma nova fábrica de gelo foi desenvolvida pela firma Linde Maschinenfabrik A.G., de Wiesbaden.
Em outubro de 1913, foi assinado o projeto do "pavilhão sul", o terceiro prédio do conjunto que seria recuado em relação à Rua Cristóvão Colombo em planta quadrada de 14 metros de lado com tres pisos e porão, com um passadiço ligando o pavilhão sul ao conjunto de prédios já concluídos.


Na imagem dá para ver nítidamente os tres prédios (de 1908, 1911 e 1914)

Em 1914 a Bopp fez a conversão de sua fabrica de Cervejaria de alta fermentação para baixa fermentação.

No primeiro dia de julho de 1924, as indústrias denominadas Bopp Irmãos, Bernardo Sassen e filhos e sucessores de Henrique Ritter (com fábricas em Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande) promovem uma fusão (reunindo as famílias cervejeiras Ritter, Becker, Sassen e Bopp) caracterizando-se em uma única empresa, dando ao estabelecimento comercial a denominação de Cervejaria Continental (Cervejaria Bopp, Sassen, Ritter e Cia. Ltda.) que se instalou no edifício da antiga Cervejaria Bopp Irmãos, na Rua Cristóvão Colombo nº 545, 691 e 695, no bairro Floresta, em Porto Alegre - RS.


Um comentário:

ja...... disse...

é muito interessante a historia mas acho que deveria ter uma parte no shopping total com fotos e escritas desta época..

Postar um comentário