domingo, 11 de dezembro de 2011

Nutrimalte Ind. e Com. de Bebidas Ltda./Ceva Malte Cerveja Natural Ltda./Cerveja Mury



Baseado nos textos:
Revista Manchete Rural nº. 27, Viviane Novaes, Junho de 1989.
Entrevista de Pedro de Paulo Osorio Ferreira ao Sr. Juca Coelho, Setembro de 2011.
Imagens: Manchete Rural nº. 27, João Silva, Pedro de Paulo Osorio Ferreira e Paulo Antunes Jr.(rótulo)

foto Manchete 27
Era com a mensagem “Um brinde à saúde” que o comerciante Alcino Coelho, já falecido, levava adiante sua pequena indústria de cerveja natural, fundada, em meados de 1985, como Nutrimalte Indústria e Comércio de bebidas Ltda, na localidade de Parada das Flores em Mury, distrito de Nova Friburgo - RJ, no Km 72 da rodovia Rio-Friburgo (RJ-116), em frente da antiga churrascaria Quari Quara, a cerveja era fabricada no segundo andar de um prédio, nas lojas do térreo eram vendidas as cervejas, queijos, etc. e havia ainda, um porão que servia de depósito.

Produzindo aproximadamente 1000 litros por mês de três tipos de cerveja: münchen, malzbier e pilsen da marca Mury nome do distrito de Nova Friburgo, onde morava e mantinha a loja de quitutes e bebidas.

Para isso, contava com a ajuda de seus quatro filhos, o que certamente reduzia a zero seus custos com mão-de-obra. Assim, a cerveja que fabricava tinha um custo de NCz$ 0,08 (oito centavos de Novos cruzados) a garrafa one-way e NCz$ 0,10 a comum, sendo vendida a NCz$ 0,40 e NCz$ 0,60, respectivamente. A garrafa one-way – aquela descartável – tinha mais saída, sobretudo para aquelas pessoas que jamais provaram uma cerveja natural. Só os fregueses habituais de seu Alcino trocavam as garrafas vazias pelas cheias.
foto Pedro de Paulo

Ela era vendida em Nova Friburgo, em Teresópolis e em alguns lugares da Zona Sul do Rio de Janeiro.

Para montar sua indústria caseira, ele passou por uma série de procedimentos na legalização do produto e das instalações. O registro do produto obedeceu à Lei 5.823 de 14/11/72 e foi expedido pela Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária e Secretaria de Inspeção de Produto Vegetal. O governo federal exigia que a água fosse de excelente qualidade e retirada de nascente. Aliás, este requisito é o grande segredo da cerveja, que determina seu sabor e qualidade. As instalações também obedeceram à legislação e, entre outras exigências, deviam ter quatro metros de pé direito (altura).
foto Manchete 27
Em maio de 1986, a firma foi alterada para Ceva Malte Cerveja Natural Ltda.
foto Manchete 27
Na fabricação da cerveja natural, seu Alcino utilizava um moedor, um recipiente para cozimento de aço inoxidável, tanque para decantação, máquina de lavar garrafa, máquina de engarrafar, filtros e termômetro. Somando-se esses equipamentos às melhorias que foi obrigado a fazer em suas instalações, o comerciante estimou um custo de NCz$ 60 mil. A única dificuldade de seu Alcino era a compra de garrafas que não consegue encontrar em maior número pelas redondezas de Friburgo. Fatalmente, recorre ao Rio de Janeiro e se depara com outra dificuldade: O transporte. Para resolver esse problema e passar a produzir cinco mil litros por mês, deveria adquirir dois veículos num consórcio. Por enquanto, só vende seu produto a varejo, dentro da filosofia que acredita: “Começar devagar, crescer aos poucos”.

Um de seus filhos, Juca coelho, era um dos que ajudavam seu pai na produção, mas logo que entrou na faculdade de odontologia passou a ficar com menos tempo para ajudá-lo. Depois de formado e exercendo a profissão, teve que parar de ajudar. Com isso ele foi desanimando aos poucos e parou a produção e acabou fechando no final dos anos 90.

A primeira foto mostra o que sobrou do local onde ela era fabricada e vendida. Na segunda, aspectos de um dos cômodos do porão da cervejaria, cheio de garrafas variadas abandonadas. Não foi encontrada nenhuma garrafa da cerveja Mury com rótulo, visto que houve alagamento de aproximadamente 1m no porão, talvez em função da tragédia climática de Nova Friburgo que fez subir o rio Santo Antônio (logo aos fundos).
foto Pedro de Paulofoto Pedro de Paulo

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Indústrias Ítalo-Brasileiras - Cervejaria Bacchi



Baseado nos textos:
Ruas Botucatuenses e A Industrialização em Botucatu
Imagens dos rótulos cedidas pelo colecionador Paulo Antunes Júnior

As origens da Família Bacchi remontam-se à Idade Média. De estirpe nobre, originária de Modena, os antepassados do Sr. Petrarca Bacchi (Petrarcha) foram exclusivamente homens de armas. Vários deles participaram da Batalha de Beoca, contra os mouros, no dia de Santo André. No ano de 1022 passam a pertencer a Ordem dos Cavaleiros instituída pelo rei Roberto, o Devoto. Foram defensores de fé cristã e o brasão heráldico, representa a batalha de Beoca.

Petrarca Bacchi nasceu em Brescello, província de Reggio Emilia, Itália, em 13 de Novembro de 1867. Era filho de Domingos Bacchi e de dª. Maria Sommi Bacchi. Em 1896, fez a campanha da Abissínia sob as ordens do general Baratieri.

Em 1898 veio para o Brasil passando a residir na cidade de Sorocaba - SP. Nesse mesmo ano transferiu-se para Botucatu - SP.

Em 1901 contraiu núpcias com dª. Maria Petry. Desse consórcio teve os seguintes filhos: Domingos, casado com dª. Onélia Dromani; Sidraco, casado com dª. Teodomira Pampado; Hermínio, casado com dª. Ida Milanesi; Dr. Jacob, casado com da. Maria Dromani; Dr. Américo e Anita. Em segundas núpcias, casou-se com dª. Elvira Grazini e deste casamento as suas filhas Mariana e Marina.

A importância do 1º Ciclo Industrial de Botucatu que vai de 1890 a 1930, é medido pela grandiosidade do Grupo Industrial de Petrarcha Bacchi. O Sr. Petrarca Bacchi iniciou suas indústrias com um moinho de Fubá no local denominado hoje de Salgueiro, isto é, no começo da Rua Amando de Barros junto ao Lavapés; transferiu-se depois para o moinho do Russo hoje de propriedade do Sr. Adriano Ribeiro. Em 1909, mudou-se para a Avenida Floriano Peixoto, primeiramente com uma máquina de arroz. É esta a origem do grande parque industrial.

Da maquina de arroz o Sr. Petrarca Bacchi instalou um pastifício, depois a serraria, maquina de beneficiar algodão e café, fábrica de cerveja, gelo, sabão, fiação de algodão, a Usina Hidrelétrica (que alimentava suas industrias e fornecia para grande parte de Botucatu) e, finalmente, uma fabrica de chapéus. Cerca de 400 empregados trabalhavam nas Industrias Bacchi.

O edifício principal consta de cinco pavimentos. Na maior parte ocupado com a fabricação de macarrão. A esse edifício está ligado um outro ocupado na mesma fabricação. Logo nos fundos deste está o grande prédio especialmente construído para a fabrica de cerveja e gelo. Esta fábrica está sendo acabada de montar.

Esta fabrica está montada com os mais modernos maquinismos, movidos por um vapor de 120 cavalos e iluminada a eletricidade. A capacidade de produção dessa fabrica de cerveja é enorme e está previsto para o dia 20 de dezembro de 1916 a primeira partida de cerveja produzida.

O desenvolvimento dado pelo Sr Bacchi, em vinte anos de atividade industrial nesta cidade é digno de nota. A Câmara Municipal concedeu-lhe isenção de impostos durante vinte anos para essa grande fabrica de cerveja, atendendo ao grande impulso que ela vem dar a cidade e ao indireto aumento de rendas para o município.

Em 28 de fevereiro de 1920 é registrada a cerveja Vencedora sob o nº. 4397 da Junta Comercial do Estado de São Paulo.

Em 30 de maio de 1922 é registrada a cerveja Princeza sob o nº. 5905 da Junta Comercial do Estado de São Paulo.

As reuniões festivas em Botucatu eram sempre alegradas pelas cervejas das Indústrias Ítalo-Brasileiras – Cervejaria Bacchi, instalada em 1918 na Avenida Floriano peixoto 25, perto do pontilhão da Sorocabana, suas marcas: Vencedora, Botucatuense e Brasileira (mais baratas); Crystal, Muenchen e Moreninha (estas duas últimas escuras), que custavam um pouco mais.

    
    
Infelizmente não há um rótulo da cerveja Bugrinha em boas condições

Em 1925, Petrarca Bacchi se desentendeu com a Companhia Paulista de Eletricidade, pois esta não fornecia energia suficiente para tocar suas indústrias. Resolveu, então, montar usina própria na Estação do Lobo. Este desentendimento se arrastou por anos na justiça. Em 22 de julho a Camara de Botucatu aprovou a construção montagem e instalação da usina elétrica no Salto do Rio Pardo proximidades da Estação do Lobo.
A confusão só chegou ao seu témino em 6 de março de 1948 quando a Companhia Paulista de Força e Luz comprou a Empresa Elétrica Bacchi, passando a ser a única fornecedora de energia elétrica no município. O inspetor-chefe da Companhia Paulista de Força e Luz deu explicações: o fio-mestre da Empresa Bacchi será desligado e então ligado o da Companhia Paulista; permanecerão intactas as ligações de casas e indústrias, salvo aquelas que não oferecerem as condições de segurança determinadas pela lei; os medidores das casas até então servidas pela Empresa Bacchi serão substituídos gradativamente.
Pelo acordo havido entre as partes, com a interveniência e aprovação desta prefeitura e dos órgãos federais, a Companhia Elétrica Bacchi deixará de fornecer enegia elétrica em Botucatu, reservando a usina de lobo, de pequena capacidade para as necessidades das indústrias dos sucessores de petrarca Bacchi.

Para completar a visão do quadro de então e da "visão" daquele dinâmico e ousado imigrante, basta dizer que construiu uma Usina Hidrelétrica para "tocar" as suas indústrias, chegando a fornecer energia elétrica à cidade de Botucatu. Da mesma forma que a Matarazzo e a Votorantim, Petrarca Bacchi procurava ser auto-suficiente em energia elétrica, o que mostra que era um empresário moderno e avançado para a sua época.
    
Petrarca Bacchi, além da Usina Hidro-Elétrica do Lobo, que tenta colocar energia elétrica na cidade, possui as Indústrias Ítalo-Brasileiras, com Cervejaria (cerveja, refresco, gelo), Pastifício (massas alimentícias de vária ordem), Beneficiamento (algodão e arroz), Torrefação e Moagem do Café Sublime, Serraria Sant’Anna (carpintaria e fábrica de veículos de madeira), Posto de gasolina, óleo e querosene (fornecidos pela Anglo Mexican Petroleum), Armazém atacadista de cereais, compras a granel de algodão em caroço, e duas fazendas, a Vargem Grande e a Boa Vista.

A 1º de março de 1940 falecia o Sr. Petrarca Bacchi em decorrência de câncer de pulmão, em São Paulo onde se encontrava em tratamento no Sanatório "Esperança", sendo sepultado em Botucatu, consternando toda a cidade