terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Cerveja Caseira Krulowa / Agrícola e Comercial de Alimentos Barro Preto Ltda.


Baseado nos artigos: Cerveja feita em casa,tradição em Irati, no Paraná - O Estado de são Paulo - 11/06/2000 - Luciana Garbin e Vai uma cervejinha aí? Em Irati, o pessoal fabrica no quintal de casa – NQM comunicação - 26/03/2006


Este artigo foge um pouco da linha das antigas cervejarias, mas acho que é válido o registro desta fabricação que chegou a movimentar todo um município e chegou a ter repercução até no estrangeiro.

Irati, o município paranaense, que dista 147 quilômetros da capital Curitiba, brinda a chegada do novo ano, celebra o almoço de Páscoa e comemora aniversários e casamentos com uma bebida trazida no começo do século por imigrantes poloneses, ucranianos e alemães que começaram a chegar na cidade em 1908 e se intensificaram no período de 1911 a 1912.

Em Irati, polêmicas sobre fusões de grandes cervejarias são coisa de fora, pois o que interessa é ter uma boa receita de cerveja em casa para poder preparar o fermentado doce e espumante, feito de lúpulo e açúcar caramelizado.

De teor alcoólico muito baixo é apenas 0,7%, em comparação com cerca de 5% da bebida industrializada, a cerveja caseira de Irati pode ser encontrada desde em mamadeiras de crianças até em minimercados e festas de terceira idade. Além disso, é considerada uma das principais tradições do município. "Aqui em Irati cada um tem seu cervejeiro predileto e o costume de fazer cerveja em casa passa de mãe para filha".

O fermentado caseiro, no entanto, também tem seus inconvenientes. Ao contrário das cervejas de garrafa, continua a fermentar mesmo depois de envasado e, se for guardado por muito tempo, seu frasco pode estourar. Além disso, como costuma fazer muita espuma, causa transtornos na hora de abrir a garrafa e não tem muita saída em bares, por conter pouco álcool.

Assim, nada mais justo que Irati, seja um grande consumidor de cerveja caseira. Com tanta procura, o município é o maior consumidor de lúpulo no Paraná, uma espécie de planta aromática utilizada na fabricação da bebida.

O que era apenas uma bebida feita para parentes e amigos começou a virar um bom negócio para cerca de 25 produtores da cerveja caseira, em 1995, foi criada a primeira Festa Nacional da Cerveja Caseira. A produção atingiu 170 mil litros anuais e toda a fabricação teve venda garantida. “A cerveja ia para Santos, Curitiba, Brasília e até para o Mato Grosso”.

A primeira edição da festa da cerveja caseira teve dois degustadores de Yakima, cidade norte-americana produtora de lúpulo, e, como premio, viagens internacionais. A avaliação levava em conta sabor, aroma, coloração, limpidez e consistência de espuma. O evento reuniu 20 mil pessoas. Em dois dias, foram consumidos 15 mil litros de bebida caseira.

O primeiro iratiense que tentou produzir e comercializar a cerveja caseira em larga escala foi o engenheiro agrônomo José Luís Pabis. De olho na aceitação que a bebida tinha na região, decidiu fazer um teste: depois que a mãe, Bronislava Pabis, conseguiu o terceiro lugar no concurso de cerveja caseira em 1995, pediu a ela que preparasse 200 litros e distribuiu-os por bares da BR-277, que passa perto de Irati. Depois de três dias, o pessoal já tinha vendido tudo e estava pedindo mais, conta. Então passamos a produzi-la nos fundos de casa.

“O sabor continua caseiro, mas a bebida é produzida industrialmente”, afirma. O engenheiro agrônomo investiu cerca de R$ 150 mil em maquinário e chegou a ter 11 funcionários. Hoje, apenas ele e sua mãe fabricam o fermentado. “Para se fazer cerveja, é preciso ter amor. Falta pessoal qualificado para isso”, lamenta.

Em 1997, a família conseguiu o registro do produto no Ministério da Agricultura e instalou a primeira indústria de cerveja caseira do País, lançando oficialmente a marca Krulowa, que, em idioma polaco, significa rainha. Para evitar a concorrência da produção familiar em Irati, Pabis vendia a bebida em embalagens plásticas de um e dois litros para clientes de Curitiba, Guarapuava, União da Vitória e municípios próximos. “Enquanto a cerveja caseira era novidade ela foi uma febre, mas faltou divulgação”.

Em 1999, com a explosão do consumo das tubaínas, refrigerantes de tutti-frutti vendidos por baixo preço a garrafa, as vendas de cerveja caíram. O sucesso ficou também comprometido, de acordo com o empresário, pelo aumento de preços, principalmente de produtos importados, como o lúpulo, depois da desvalorização do dinheiro.

Em 2000, por causa da crise, a empresa da família, que tinha capacidade para produzir 2.400 litros de cerveja caseira por dia suspendeu as suas atividades, mantendo-se a partir daí a um nível residual. “Continuamos com a firma aberta, mas não estamos produzindo em consequênciacia dos custos", lamenta Pabis. "Ainda vou voltar a comercializar a Krulowa, mas faltam investimentos".

Duas pessoas em Irati possuem a autorização para fabricar a cerveja caseira, ou melhor, o fermentado de açúcar com lúpulo, a denominação correta do produto. Apenas José Luís Pabis, proprietário da fábrica Krulowa, continua em atividade.

A cerveja, que era vendida em mercados, bares e nos comércios na beira de estrada, está proibida de ser comercializada desde junho de 2005. Agora, apenas quem tem o registro no Ministério da Agricultura pode vender. No entanto, por determinação do ministério, o nome “cerveja caseira” está proibido. A denominação agora é “fermentado de açúcar com lúpulo”, o que causou estranheza entre os consumidores. Pelas normas brasileiras, a cerveja tem de possuir 7% de mosto de malte em sua composição, o que não acontece com a bebida feita em Irati, que não possui o ingrediente na sua receita. “Na Bélgica, bebidas sem malte são classificadas como cerveja”, compara José Luís Pabis, dono da única fábrica do fermentado na região.

  
Para aumentar as vendas, Pabis teve que usar uma estratégia de marketing. “As pessoas estranhavam o nome e acabavam não comprando”, lembra. Para isso, ele chegou a imprimir alguns cartazes para colocar nas gôndolas dos mercados com a denominação correta e em destaque a frase “popular cerveja caseira”.

Desde junho de 2005, a vigilância sanitária de Irati começou a cumprir um decreto do Ministério da Agricultura, que proíbe o comércio da bebida sem o devido registro, e exige o cumprimento de normas técnicas e sanitárias. A partir disso, os pequenos produtores viram uma oportunidade de ganhar dinheiro desaparecer e a proibição da venda inviabilizou a 11.ª edição da festa, que seria realizada em novembro desse ano.

Uma reunião entre a prefeitura, a vigilância sanitária da cidade e os fabricantes tentou mudar essa realidade. A proposta de criação de uma cooperativa foi discutida, mas os altos custos para comprar o maquinário exigido pelo ministério, cerca de R$ 120 mil, inviabilizaram o projeto.