sexta-feira, 3 de março de 2017

Fábrica de Cerveja Paraense


Texto baseado nos artigos da Faculdade de Arquitetura e urbanismo da UFPA



Em maio de 1896, João Moreira da Costa, através da Lei 443, obteve o privilégio por dez anos para montar uma fábrica de cerveja em Belém bem como outros benefícios para poder se estruturar.

Após duas prorrogações, a primeira pela lei 686, de 23 de março de 1900, que prorroga por um ano e a segunda pela lei 835, de 25 de maio de 1902, que prorroga por cinco anos a partir de 29 de março de 1903 o prazo marcado a João Moreira da Costa, para efetivar a instalação da fábrica de cerveja.

A Fábrica de Cerveja Paraense foi constituída por uma sociedade anônima, cujos principais incorporadores foram os empresários: Domingos Pires Barreira, Coronel Casemiro Brasil Montenegro, Otto Herbert Fuerth e João Moreira Costa. A primeira reunião de acionistas se efetuou em 14 de setembro de 1899, onde foi eleita a sua primeira diretoria.

Na sessão de 21 de setembro de 1899 da Junta comercial do Estado do Pará foi deferido o requerimento para o arquivamento de diversos documentos concernentes à sua definitiva constituição.

No dia 1º de janeiro de 1900 foi colocada a pedra fundamental do edifício da fábrica.

A Fábrica de Cerveja Paraense começou a funcionar em 1º de janeiro de 1905. Foi inaugurada em 24 de junho do mesmo ano, quando seus produtos foram expostos à venda pela primeira vez. Note-se que foram necessários cinco anos à construção da estrutura fabril dada às expertises do engenheiro industrial Claudio Solanes que já mostrara resultados em 1897 com a modernização produtiva da cerveja Babylonia Brau com sede na capital federal.

A fábrica ocupa uma área de 3.375 metros quadrados de edificações, na Avenida Independência (atual gov. Magalhães Barata), toda ela edificada, medindo o terreno pertencente ao estabelecimento 29.750 metros quadrados. Ao longo do tempo, com a aquisição de diversos terrenos contíguos, a fábrica passou a ter as seguintes metragens: pela Av. Independência 64, 65m; pela Av. Gentil Bittencourt 118m, tendo de fundos 295, 60m. A largura de 116m sob a Av. Gentil Bittencourt prolonga-se até 299,50m de fundos.
Acredita-se que outras construções foram acrescidas na área da Fábrica de Cerveja Paraense após 1905: o Club Allemão com seu anexo para jogos, o Bar Paraense, o Bar Pilsen e o Cinema Popular, destacamos o (Theatro) Bar Paraense, que mesmo dentro do complexo da Fábrica de Cerveja Paraense, contíguo à sucursal da Real Fábrica Palmeira, era tido como propriedade de Jorge Corrêa e Cia. A Fábrica de Cerveja Paraense era composta, na sequencia da numeração da via, pelo Theatro Bar Paraense, pelo gradil da Fábrica com dois portões para carros), o Bar Pilsen e o Theatro Popular.

Os mais modernos e aperfeiçoados maquinismos acham-se ali aplicados à indústria da cerveja, podendo eles produzir até 5.000.000 de litros por ano. O maquinário foi fornecido pela firma alemã Fabrik Germania de Chemmitze, a matéria prima era importada da Bohemia (Alemanha) e da América do Norte.

Em 1908, segundo seu balanço em 31 de dezembro, sua capacidade produtora anual foi de 3.000.000 litros e seu capital de Rs 1:000.000$000 (Hum mil contos de réis), tendo sido distinguido com o Grande Prêmio da Exposição Internacional do Rio de Janeiro.

Em 1911, sua produção anual foi de 4.000.000 de litros, produzia as cervejas tipo claro: Amazonia, Americana e Rio Branco e as tipo escuro: Marzen, Rio Negro e Porter. Tornou a receber um Grande Prêmio na Exposição Internacional de Turim. Sua diretoria era composta por: Visconde do Monte Redondo, presidente; Adolpho Custódio Ferreira Braga, secretário e Dr. Lucio Freitas do Amaral, tesoureiro.


Em 2 de setembro de 1912, o jornal O Estado do Pará, anuncia que a Fábrica de Cerveja Paraense acaba de por a venda uma nova marca de cerveja tipo pilsen, a Cerveja Paraense Especial.

Em 4 de novembro de 1912, falece seu presidente em exercício, o Sr. Adolpho Custódio Ferreira Braga, suplente da diretoria pelo impedimento de Joaquim Antonio do Amorim, Visconde de Monte Redondo, sendo substituído por Eugenio Augusto Soares.

Em maio de 1913, a Fábrica de Cerveja Paraense lança a Cerveja Ideal tipo Vienna, leve e agradável.

A fábrica, nesse ano, empregava 140 homens em sua maioria portugueses, anualmente colocava 3.600.000 litros de cerveja no mercado. Produzia cinco tipos de cerveja: Pilsen, Vienna, Leão, Rio Branco e Portel, Os proprietários afirmavam que o produto rivalizava com o que melhor existia na Alemanha. O sucesso da fábrica foi tão grande que estes sofreram alguns dissabores em razão da campanha de difamação do produto produzido no norte do Brasil. Em carta dirigida aos jornais paraenses, reclamavam de representantes do sul do Brasil que faziam uma campanha desleal em relação à cerveja local; ocorre dizer, entretanto, que a Fábrica de Cerveja Paraense não produzia somente cerveja. Saiam dos muros maciços daquele grande empório industrial, diariamente, centenas de dúzias de garrafas de outros produtos, tais como: Guaraná, Kola-Champagne, Quina-Tonica, etc. que obtiveram, desde logo, a preferencia do publico, pela excelência de seu preparo, ganhando lugar de destaque no mercado.

Nesta ocasião, julho de 1913, estava ocorrendo a Exposição Universal de Turim e o Delegado do Estado do Pará na Exposição, o Sr. Jaime Gama e Abreu, tomou conhecimento da nota e escreveu uma carta aos proprietários, solidarizando-se com os protestos e comprometendo-se levar tal fato ao júri. A Revista registra que Gama e Abreu solicitou ao júri da Exposição que fizesse análise mais acurada do produto paraense, considerando que sempre, neste quesito, eram as fábricas estrangeiras ou do sul do Brasil que levavam vantagem. A solicitação foi atendida, resultando na concessão do Grande Prémio ao produto da Cervejaria Paraense.

Em agosto de 1913, de acordo com a assembleia Geral extraordinária, o capital foi aumentado em Rs 250:000$ através de ações de Rs e 100$000 e uma emissão de 2.200 debentures de Rs 500$000

Em 30 de setembro de 1914, o Congresso Legislativo do Estado do Pará, em 3ª discussão aprovou a emenda Nº 1343 isentando de todos os impostos estaduais a Fábrica de Cerveja Paraense e seus depósitos de gelo e cerveja.

Ao longo das décadas de 1910 e 1920, notamos que a Cervejaria Paraense obteve do governo vantagens fiscais através de decretos. Em 1919, a Cervejaria Paraense obteve isenção de impostos por dez anos. O contrato entre o estado e a fábrica de cerveja paraense, em atenção á lei nº 2.840, de 07 de novembro de 1929, sancionada pelo governador Eurico Valle, que prorrogava por mais dez anos os favores concedidos á dita fábrica em 1919. A fabrica de cerveja, suas dependências e os seus produtos ficariam isentos de todos os impostos estaduais, excetos os de consumo, pelo prazo de 10 anos. Por seu lado a fábrica se obrigaria a fornecer gratuitamente, durante o mencionado prazo, diariamente 30 quilos de gelo e meio litro de levedo para os hospitais da cidade.

Em todas as exposições a que tem concorrido, as melhores recompensas lhe são conferidas. Assim foi na de Turim, nas duas Exposições Nacional do Rio de Janeiro, nas de Bruxelas e de Londres.

Foi contemplada com o Grande Premio nas exposições de Londres em 1921 e na do Centenário do Brasil em 1922.

Em 1926, porém, devido às condições da praça de Belém, a produção atingia somente 2.500.000 litros.

12 de setembro de 1926, o Jornal O paiz publica que para melhor corresponder às simpatias e a preferência do público, os seus incansáveis diretores: Antonio Faciola, Eduardo Tavares Cardoso e Menassés Bensimon, acabam de dotar a fábrica de novos melhoramentos, cuja inauguração se fez em 21 de julho, celebrando o 21º aniversário de sua fundação.

Esses melhoramentos consistem de seis motores e dois dínamos para reforçar a capacidade produtora do estabelecimento, sendo feitas também novas instalações elétricas.

Em 29 de outubro de 1929, o jornal O Nordeste publicou que a Fabrica de Cerveja Paraense que vem de lançar a consumo público o guaraná de sua produção e que tão grande sucesso alcançou e foi considerado o guaraná da moda e da atualidade acaba de lançar ao consumo público uma nova marca de cerveja denominada Munich, cerveja escura em 1/2 garrafa, fabricada especialmente com cevada e perfeitamente igual à afamada cerveja de Munich, na Baviera

Esse complexo fabril e comercial entrou em declínio na década de 1930 entrando em liquidação em 1939 e foi posto à venda depois de decretada, em 12 de abril de 1940, sua penhora por ação judicial do Banco do Pará, foram penhorados todos os bem móveis e imóveis pertencentes à fabrica de cerveja, a ação foi proposta pelos portadores de debentures emitidas por aquela fábrica.


Em 27 de julho de 1940 a Fábrica de Cerveja Paraense é posta em malogrado leilão; somente em 1943 é desapropriada, a bem da utilidade pública, pelo interventor Magalhães Barata que por ela pagou quatrocentos mil Cruzeiros; Barata intencionava instalar na antiga fábrica um magnífico modelo que resolveria o problema de abastecimento de carne verde à população – a Fábrica de Cerveja Paraense era dotada de espaçosas câmaras frigoríficas que alugava a importadores de gêneros perecíveis ou a qualquer que pudesse pagar por elas.

Em 1947, pelo decreto-lei nº 9, o major Moura Carvalho, então governador do Estado do Pará, vende por um milhão e seiscentos mil cruzeiros (Cr$1.600.000,00) a Fábrica de Cerveja Paraense à Companhia Cervejaria Brahma do Rio de Janeiro, com a condição de que no local fosse instalada uma moderna fábrica de cerveja.

A Brahma fez da Fábrica de Cerveja Paraense depósito e manteve em funcionamento, dentro do complexo que adquiriu, o Bar Pilsen (nota de revitalização do lugar em 1947) e o Cinema Popular (notícia policial de 1951) .

Em 1962 os paraenses Alcyr Boris de Souza Meira e Geneciano Fernandes Luz, intermediados pelo escritório Freitas Valle do Rio de Janeiro, adquiriram da Brahma toda a superfície (e ruínas) do complexo Fábrica de Cerveja Paraense, uma área de 40.000m² e lá planejaram o Loteamento Jardim Independência, dando origem ao conjunto residencial Jardim Independência.

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