quarta-feira, 11 de março de 2015

Imperial Fábrica de Cerveja Nacional de Henrique Kremer / Augusto Kremer & Cia / Imperial Fábrica de Cerveja Nacional de Frederico Guilherme Lindscheid / Lindscheid & Cia / Companhia Cervejaria Bohemia


Baseado em vários jornais da época

Em junho de 1844, a Província do Rio de Janeiro contrata com o Vice-Cônsul do Brasil em Dunquerque, a vinda de 600 casais de trabalhadores e de artífices das mais variadas profissões, destinadas às obras públicas fluminenses. Durante o ano de 1845 foram relacionadas 13 embarcações trazendo 2.338 imigrantes para a província do Rio de Janeiro, a primeira delas chegando ao porto de Niterói em 13 de junho e a última, em 7 de novembro de 1845.

Junto com esses colonos, chegou a família de Johann Henrich Krämer (Henrique Kremer) acompanhado de esposa e 5 filhos. Kremer era alemão, proprietário de fábrica de cerveja, nascido em 12 de agosto de 1811 em Hilchenbach-Grund, Siegerland (Hilchenbach e as aldeias em torno eram uma parte do antigo Condado de Nassau. Durante as guerras napoleônicas em 1807 tornou-se parte do Reino de Westphália. Em 1815, após o Congresso de Viena, Hilchenbach e outras aldeias de Siegerland tornaram-se parte da Prussia, província da Westphalia). Casado com Anna Margaretha Helmes em 22 de janeiro de 1836. O casal teve seis filhos, cinco ainda na Alemanha: Maria Elisabeth, nascida em 3 de agosto de 1834, Wilhelmina, nascida em 21 de março de 1837, Johannes Justus, nascido em 2 de novembro de 1838 e os gêmeos Henriette e August, nascidos em 20 de março de 1841. Já em Petrópolis, no Rio de Janeiro, nasceu Karoline Christine Josephine em 9 de agosto de 1852.

Os colonos receberam um PRAZO, isto é, uma determinada superfície de terreno num dos Quarteirões, em geral de 5 a 10 mil braças quadradas, isento pelo artigo 24 das Instruções da Mordomia da Casa Imperial, do pagamento de jóia e de oito anos de foro anula a contar de 1-1-1846. A Henrique Kremer coube o prazo nº 3030 do Quarteirão Brasileiro.

Henrique Kremer, foi um hábil artesão especializado em fazer coberturas de casas com pequenas tábuas e também ardósia, o Almanak Laemert o registra nessa função até o ano de sua morte, além disso, também fazia, em casa, sua própria cerveja.

Publicado no Diário do Rio de Janeiro de 1º de Janeiro de 1854 a autorização para a Colônia comprar o terreno de propriedade de Henrique Kremer para instalação de um matadouro.
Com os negócios indo bastante bem, em junho de 1854 adquiriu de Pedro Alcântara Belegarde um terreno na atual Avenida Koeler nº 130, próximo à Catedral São Pedro de Alcântara e Praça da Liberdade onde construiu uma residência, constituida originalmente, de dois prédios distintos: casas 114 e 130. Apresentando linhas simples, a arquitetura remete aos chalés germânicos.
Em 1858, finalizando uma negociação que se arrastava desde 1854, Henrique Kremer vende à fazenda provincial, a propriedade que possuía no Quarteirão Westphália, que a transformou no atual Matadouro Municipal de Petrópolis e, com os recursos obtidos, comprava a filial da Imperial Fábrica de Cerveja Nacional de Henrique Leiden, situada no Quarteirão Nassau, na Rua Princeza Dona Leopoldina nºs 16, 18 e 20, conhecida pela população como Rua dos Artistas (depois Rua 7 de Abril e hoje rua Alfredo Pachá). Essa fábrica de cerveja aparece no Almanak Laemmert, pela primeira vez em 1854 (dados referentes ao ano anterior). Henrique Leiden possuía no Município da Corte a matriz dessa fábrica, fundada em 1848.
Passando a se chamar Imperial Fábrica de Cerveja Nacional de Henrique Kremer.
Em 12 de novembro de 1859, é publicado no jornal O Mercantil, o primeiro de vários convites para bailes no salão da fábrica: CONVITE: Concêrto instrumental, na fábrica de cerveja, Rua dos Artistas nº 8, (Petrópolis - RJ) dado pela banda de música que aqui chegou do Rio de Janeiro, sábado 12 do corrente, às 7 horas da noite. Entrada 1$000. (a) Henrique Kremer. Em 16 de abril de 1863, o jornal “O Mercantil” publica que anteontem na Rua dos Artistas, na fábrica de cerveja do Sr. Kremer, de madrugada, houve um horrível conflito com muitos feridos. Diz ainda que: “... seria conveniente que taes bailes fossem prohibidos, pois não é este o primeiro conflicto que se tem dado, e a julgar-se por ele, dia virá em que seja ali theatro de morticínios, como já tem sido de espancamentos...”.

Com o falecimento de Henrique kremer, em 1865, foi constituída a empresa Augusto Kremer & Cia pelos seus herdeiros, cujos sócios eram: Augusto Kremer e seus irmãos.

Em 22 de julho de 1866 Henriqueta Kremer (Henriette Kramer), filha de Henrique Kremer (Johann Henrich Krämer) casa com Frederico Guilherme Lindscheid (Friedrich Wilhelm Lindscheid), nascido em 11 de junho de 1835, em Remscheid na região administrativa de Düsseldorf, estado da Renãnia do Norte, Westfália. Tiveram três filhas: Ana Bertha, Katharina Auguste e Caroline (Carolina) Lindscheid.

Em 1867, em Juiz de Fora - MG nas imediações da Igreja da Glória, foi fundada a filial da Cervejaria Augusto Kremer & Cia. Em 31 de agosto de 1876, a Cervejaria Augusto Kremer & Cia é dissolvida e separam-se comercialmente matriz e filial, ficando Augusto Kremer com a fábrica de Juiz de Fora que passa a se chamar Imperial Fábrica de Cerveja e Águas Mineraes de Augusto Kremer & Cia. E Frederico Guilherme Lindscheid com a fábrica de Petrópolis que passa a se chamar Imperial Fábrica de Cerveja Nacional.
Em Juiz de Fora no mês de abril de 1878, falece Augusto Kremer, deixando viúva Catharina Kremer e três filhas: Margarida, Henriqueta e Carolina.

Em Petrópolis, a Imperial Fábrica de Cerveja nacional nas mãos de Lindscheid tomou uma grande expansão e prosperidade tornando o seu proprietário, o industrial petropolitano mais rico de seu tempo. Em 1883 a cervejaria chegou à expressiva marca de produzir 1 milhão de garrafas.

Em 4 de março de 1890, é publicado no DOU que a Antiga Fábrica de Cerveja Nacional – FGL, registra na Junta Comercial do RJ, sob o nº 1752, a cerveja dupla branca marca Petrópolis.

Em 5 de junho de 1895, Carolina Lindscheid veio a casar com seu primo Henrique Kremer, filho de Johannes Justus Kramer, passando a se chamar Carolina Lindscheid Kremer.

Em 1º de fevereiro de 1896 Frederico Guilherme Lindscheid transfere sua fábrica de cerveja: Antiga fábrica de Cerveja e Águas Mineraes, para seu genro e sobrinho Henrique Kremer que registra uma nova firma: Lindscheid & Cia, onde fica respondendo como sócio comanditário e como sócios solidários Frederico Guilherme Lindscheid Sobrinho que passa a dirigir a fábrica em Petrópolis e Victorino Rodrigues de Figueiredo que continua a dirigir o depósito na Rua 7 de Setembro nº 62, no Rio de Janeiro.

Em março de 1896, por ocasião da partilha de bens do espólio da mulher do industrial, Sra. Henriqueta Kremer Lindscheid falecida em 21 de setembro de 1892, a fortuna declarada no Inventário totalizava 1.073:973$840. Uma quantia fabulosa para a época. Tanto mais sabendo-se que nessa ocasião, o Inventário do Imperador D. Pedro II somou o valor de 1.5567:080$131. Nessa partilha de bens a filha, Carolina Lindscheid Kremer, casada com Henrique Kremer, neto do fundador, tocou uma parcela avaliada em 220:000$000 representando a fábrica de cerveja e os prédios onde ela funcionava.

Em 6 de julho de 1896, é publicado no DOU que Lindscheid & Cia (Antiga Fábrica de Cerveja Nacional), registra na Junta Comercial do RJ, sob o nº 2351, a cerveja marca Petrópolis – Especial Beer.

Em 23 de abril de 1897, é publicado no DOU que Lindscheid & Cia (Fabrica de Cerveja e Águas Minerais a vapor) registra na Junta Comercial do RJ, sob o nº 2411, a cerveja marca Branca Simples.

Em 28 de julho de 1897, é dissolvida a sociedade retirando-se os sócios Frederico Guilherme Lindscheid sobrinho e Victorino Rodrigues de Figueiredo.

Registros indicam que em 1897, a fábrica realiza diversos melhoramentos e, segundo anunciava a Gazeta de Petrópolis daquele ano, estava habilitada a “servir com promptidão qualquer pedido com que lhes honrem seus amigos e freguezes”.

Em 5 de março de 1898, o Jornal do Commercio, de Juiz de Fora – MG, publica a chegada de Wilhelm Bradac, contratado por Henrique Kremer sócio da fábrica de cerveja Kremer, de Juiz de Fora, e proprietário da Cervejaria Lindscheid, de Petropolis, para dirigir os trabalhos nessas fábricas.

Em 25 de julho de 1898, achando-se presentes e representados na assembléia geral os senhores Rodolpho Weber, Souza Filho & Cia., C. Spaelty - Zweifel, F. C. F. Finkennauer, Hermann Kalkuhl, Fernando Augusto da Rocha, Octávio da Silva Prates, Carlos Maximo de Souza, Monsenhor Dr. Pedro Peixoto de Abreu Lima, Júlio Delage, Pedro de Schepper, Francisco Sixel, João Esch Jun, João Antonio Ribeiro, Miguel Rittmeyer , Antonio Joaquim Luiz Canedo, Carlos Kerster, Victorino Rodrigues de Figueiredo, Guilherme Bradac, Henrique Kremer. Christiano Hecksher, Emílio Vielsen, Dona Virgínia Ferrari, Hernesto Roncheni, Ettore Poggiolesi, foi constituída a Cervejaria Bohemia incorporando todos os bens da Lindscheid & Cia, antecessora, e com o capital de 500:000$000 divido em 2.500 ações no valor nominal de 200$000, sendo que os primeiros diretores eleitos, foram os senhores Henrique Kremer e Guilherme Bradac.

Kremer, auxiliado por Bradac, decidiu transformar a fábrica de cerveja comum noutra de fabricação aperfeiçoada e superior, até 1899, a fabricação chega a ser suspensa temporariamente, para completa modificação da Cervejaria. As condições dos antigos edifícios em nada se adaptavam à fabricação moderna, sendo necessário reconstruir os velhos e construir novo edifício o que se efetuou sob o plano elaborado pelo Sr. Bradac, sendo mestre de obras o conhecido construtor Sr. Rodolpho Müller, ex-diretor de obras da fábrica Teutonia de Mendes – RJ. O edifício da companhia subdivide-se em várias partes: Casa da caldeira, onde se acha instalada a grande caldeira Cronwall com 55 metros quadrados de aquecimento, pressão de 8 atmosferas e um comprimento de 9 metros, sendo alimentada por uma bomba a vapor Worthington e por um injetor contando-se da caldeira à ponta da chaminé 25 metros de altura; Casa das máquinas, ali se encontra a máquina à vapor, força de 40 cavalos, dois compressores para amoníaco (nº4), sistema Linde e bombas rotativas para suprir de água os diversos compartimentos, junto fica a casa do gerador para fabricação do gelo; Casa da fabricação, de três andares e magnificamente instalada, no térreo acha-se uma caldeira de fermentação aquecida á vapor, tina de mexer (maischbottich), aparelhos rotativos e outros necessário a extração da cevada, no segundo e terceiro andar acha-se o deposito de cevada e outros utensílios; Passa-se em seguida ao prédio em que estão além das camaras frigorificas Eiskeller, a sala de fermentação atualmente com 12 tinas mas para o futuro serão 26, todas fabricadas pelo Sr. Miguel Sixel, Filho & Cia, o depósito de lúpulo e aparelhos de esterilização e os toneis de armazenamento, atualmente em número de 60 com capacidade de 3 a 4 mil litros cada; Casa do meio, onde estão instaladas as seções de engarrafamento e lavagens de barris e garrafas e por último o escritório.
Kremer não conseguiu ver a Companhia Cervejaria Bohemia funcionando, em 10 de maio de 1900 faleceu com somente 35 anos de idade, deixando viúva e dois filhos.

Nos meses de agosto e setembro de 1900 foram refeitos os registros de marca da antiga Lindscheid & Cia passando para a Cervejaria Bohemia as diversas marcas: Petrópolis Pilsen e Munchen, Viena Preta e Branca e a Bohemia.

Em 1901, é relançada a cerveja Viena.
Em 1908 a Cia. Cervejaria Bohemia ganha o Grande Prêmio na Exposição Nacional do Rio de Janeiro e em 1922 a companhia recebe novamente o Grande Prêmio na Exposição Nacional do Rio de Janeiro.

Em 1910, a produção vai a 18 mil dúzias de garrafas por mês. Em 1930 a produção dobra e vai a 36 mil dúzias de garrafas por mês. 30% do total era cerveja Bohemia. Em 1954 a Bohemia passa a contar com diversos produtos no mercado: seis marcas de cervejas e mais ingredientes.

Em 1960, a Cia Antárctica Paulista comprou a empresa que produzia dez mil dúzias por mês.