quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

cervejaria Lybia


Texto baseado no artigo: O auge das cervejas artesanais em Urussanga - Jornal Vanguarda - 29/06/2015


A 26 de maio de 1878, chegaram a Urussanga - SC, vindos de Longarone, Província de Beluno, Região de Veneza, os primeiros imigrantes italianos. Por essa razão, esta é a data oficial de fundação da cidade. A partir daí a população que viria habitar Urussanga, veio de diversas regiões da Itália, principalmente de Vêneto, Treviso, Veneza, Údine, Beluno, Mántua, Cremona, Bérgona e Trento. Saíram da Itália com o desejo e a esperança de uma vida melhor na nova terra. Urussanga prosperou, tornando-se passagem obrigatória para os imigrantes que se dirigiam para os novos núcleos coloniais de Santa Catarina. Em 3 de junho de 1891 foi criada a freguesia com a denominação de Urussanga, pelo decreto estadual nº 84, subordinado ao município de Tubarão. Foi elevado à categoria de vila e município com a denominação de Urussanga, pela lei estadual nº 474, de 6 de outubro de 1900, desmembrado de Tubarão. Em 1917, com a abertura das minas de carvão, a cidade entrou em novo estágio de desenvolvimento econômico.

Dentre esses italianos, chegados no fim do século XIX, estava a família do comerciante Giovanni (João) Damiani, sua esposa Lucia De Bona Marchet Damiani e seus filhos. Guardado por descendentes existe documentação e livros de registros do comércio de Giovanni Damiani, entre 1885 e 1893.

Giovanni Damiani foi proprietário da primeira casa comercial no município onde construiu uma casa, inaugurada no dia 8 de março de 1896, na parte central do município. Inicialmente, a edificação serviu como moradia da família e foi sede de um armazém, onde era vendido de tudo. Desde os diversos tipos de alimentos para os italianos, até vestimentas, tecidos e ferramentas. Atualmente uma das casas mais antigas e bem conservadas do município de Urussanga, assim pode ser considerada a residência.


Nessa época, o município não possuía nenhum tipo de hotel ou pensão. Devido a isso, e por Giovanni Damiani ter sido o primeiro juiz de paz da cidade, autoridades de toda a região se hospedavam na residência da família.

Giovanni Damiani, faleceu em 17 de abril de 1900 e deixou a esposa Lucia De Bona Marchet Damiani e 12 filhos. Lucia era uma mulher de garra e precisava sustentar os filhos, a época vivenciada entre 1910 e 1940 em Urussanga exigia independência e autossustento das famílias de imigrantes italianos mesmo após os 30 anos de fundação da cidade.

A família entristeceu-se muito, porém Lucia não se deixou abater pela situação. Terminou a obra que o marido havia iniciado, a de uma cervejaria chamada Lybia e em outubro de 1912, um livro de registro guardado, apresenta o início da cervejaria e as primeiras movimentações financeiras. “Naquele tempo não era fácil conseguir cerveja. Então fabricar a caseira artesanalmente era uma maneira de ter a bebida para o consumo próprio. Além disso, a Lucia conseguia utilizar o dinheiro para sustentar a família. O local da produção era em uma casa ao lado da Farmacentro, antiga residência de Iva Damiani”.


A fábrica se localizava ao lado da residência, e a cerveja era preta tipo Malzbier, vendida em todas as cidades da região.

Conforme registros, a cerveja denominada Lybia foi comercializada pela família Damian de 1912 a 1926 sob a responsabilidade de Lucia e do filho Damião Damian. A Lybia era bem conhecida. A garrafa era revestida com um cartucho feito de palha de arroz e trigo e as garrafas eram colocadas em uma caixa de madeira, dividida ao meio, cabendo duas dúzias. Para enviar para outra cidade a caixa era pregada e passava uma cinta de ferro.

Em março de 1927 o filho de Lúcia, Artemio era o responsável pela produção da cerveja, ele era casado com Seraphina Zanellato que era o seu braço direito. Conta Livia Damian Belloli, filha dos dois, que ela levantava à meia noite para ajudar o marido a fazer cerveja. Eles acendiam o fogo, acredito que para a fermentação, e que era um processo muito trabalhoso. Faziam cerveja preta e branca. Minha mãe contava que quando se casava tinha que viver de acordo com o marido, ser companheira. Meu pai perguntava para ela se ela estava precisando comprar algo naquele mês e quando minha mãe dizia que não precisava, ele logo dizia que ia usar o dinheiro para pagar a cevada à vista para ganhar uma saca de presente.


A última assinatura de Artemio Damian, no livro de registros, ocorreu em 30 de junho de 1929. Dias depois ele veio a falecer e a produção e a comercialização foi interrompida por 15 dias.

Em 15 de julho de 1929, Damião Damian, irmão de Artemio, começou a auxiliar Seraphina nos negócios. A exemplo da sogra Lucia, a viúva Seraphina cuidou de três filhos e tocou a cervejaria durante um curto período.

Em 15 de abril de 1930, outro irmão de Artemio, Viatore Damian, também ajudou Seraphina e passou a assinar o livro registro. A última anotação, feita em 31 de julho de 1930, foi assinada por Viatore. “O cunhado de minha mãe pegou a cervejaria e foi tocar. Depois, por volta de 1938, ele também vendeu para outra família. A cervejaria ficou fechada por muito tempo”, frisa. Livia Damian Belloli, Neta de Lucia De Bona Damian e filha de Artemio e Seraphina, ainda guarda um termômetro utilizado na cervejaria, também guarda um livro de registro da fábrica da avó com dados dos impostos a pagar e das vendas diárias.


terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Fabrica de Cerveja e Soda Eugenio Anselmi


Texto baseado no trabalho:Conheça Descalvado
Autor: Luiz Carlindo Arruda Kastein


O nome do município de Descalvado vem do nome de um morro, ou precisamente do Morro do Descalvado que tem esse nome devido ao fato de ser desprovido de vegetação. O Morro até possui cerrada vegetação em seu topo, porém apresenta partes rochosas, o que lhe legitima a denominação de Descalvado, escalvado ou calvo.

Em 1809 foram constituídas as fazendas Grama, Nova e Areias, por essa época, as terras de Descalvado não teriam nome, pois eram fundo de Rio Claro ou de Araraquara (mais de Rio Claro, embora não de princípio unido a ele, administrativa e juridicamente).

Em 1820, José Ferreira da Silva, proveniente de Minas Gerais compra a fazenda Areias. Doze anos depois, em 1832, ele constrói a Capela de Nossa Senhora do Belém em cumprimento a um voto religioso de sua mulher Florência Maria de Jesus, rodeada por cinco casinholas ao seu redor dando início ao povoado, em 1842 quando o casal fez a doação de uma légua de terras para a igreja já somavam quarenta taperas. Em 1845, já eram em torno de 80 casebres ao redor da Igreja e em 1883 já existiam 397.

Em 28 de fevereiro de 1844 foi criada a Freguesia (Distrito de Araraquara) da Capela Curada de Nossa Senhora do Belém pela lei n.º 21, esta freguesia fica desanexada do município de Araraquara, e reunida com todo o seu território ao de Mogi-Mirim. E ainda como freguesia, foi incorporada a São João do Rio Claro, pela lei n.º 13, de 7 de março de 1845. Elevada a vila em 1865 continuou a pertencer à comarca de São João do Rio Claro; com o nome de Belém do Descalvado, em 1º de abril de 1889, foi elevado à categoria de cidade com o nome de Belém do Descalvado e em 26 de dezembro de 1908, a Lei n.º 1157 Simplifica o nome mudando a denominação do Município, Comarca e Distrito de Paz de Belém do Descalvado para Descalvado.

O movimento abolicionista associado à expansão cada vez maior do café foi o estímulo para a vinda de imigrantes, principalmente italianos, para o município de Descalvado. A população municipal elevou-se rapidamente com a substituição do braço escravo, os italianos firmavam contratos de trabalho em que se fixava as obrigações do “colono” bem como o salário que recebia, em geral proporcional ao número de pés de café tratados. Às vezes recebiam “pequenas roças, geralmente dois hectares, onde plantavam milho, arroz, feijão, batatas, legumes e às vezes videiras. A grande aspiração destes imigrantes foi a posse de um lote de terra próprio. Procuravam juntar os meios necessários para a compra do mesmo. Em 1886, de cerca de 1124 estrangeiros 729 eram italianos. De 1890 a 1910 o município de Descalvado recebeu, aproximadamente, cerca de 3.000 famílias provindas do norte da Itália. Com isto, a população municipal, elevou-se, rapidamente, para quase 30.000 em 1900.

Antes da grande industrialização da cerveja em São Paulo e no Brasil, e mesmo já iniciada esta, Descalvado sempre fabricou sua cerveja, até que, pela década de 20, fechou sua derradeira fábrica. Dada a grande população rural, na época do fastígio do café, às entradas da sede urbana, erguiam-se cervejarias de proprietários locais e todos fazedores de ótimos produtos, usando, para isso, entre os ingredientes necessários, alguns importados da Alemanha, a terra da cerveja por excelência. Foi época de muita camaradagem, de constantes piqueniques e estes, especialmente nas proximidades das cervejarias. Sabe-se que naqueles tempos a segunda feira era dia de folga para os artesãos e, então, nesse dia, reuniam-se todos nas cervejarias descalvadenses, para uma festiva jornada de muito beber e comer.

Os anos de 1890 a 1893, foram de apreensão sobre o estado de salubridade publica. As noticias que vinham de todos os quadrantes eram as piores possíveis, falava-se em febre amarela, em varíola, em epidemias que grassavam por toda a parte, não escapando a Capital da República e do Estado. Estudavam-se os meios de debelá-las ou de atenuá-las.

No Descalvado, restabelecida a Câmara e dissolvida a Intendência Municipal, tratou ela de precatar-se contra qualquer surto epidêmico. Como houvesse dentro da cidade quatro fábricas de cerveja e se julgasse que as dejeções das fábricas de cerveja dessem causa aos miasmas (na época era o termo empregado na suposição de que existiam miasmas) pestilentos, a comissão de Higiene da Câmara indicou e a Câmara, em dezembro de 1892, aprovou a lei ordenando que essas fábricas se mudassem, saindo do perímetro urbano como medida de higiene pública. Os proprietários se Insurgiram contra a medida, mas nada conseguiram.
Assim, uma das cervejarias fechou suas portas, vendendo sua maquinaria enquanto a de Pompeu Brambilla, foi mudada para o bairro do Tamanduá, a Cervejaria Fumagalli de Luiz Fumagalli, foi para o bairro São Sebastião e a Fábrica de Cerveja e Soda de Eugenio Anselmi que acabou se instalando no sítio Tirolim que ficava às margens do Ribeirão Bonito, caminho da Fazenda Ibicoara, propriedade de sua família.


No final do século XIX, pelo menos em Descalvado, Igreja e Maçonaria, andavam de mãos dadas, e ambas se preocupavam muito com o casamento civil, que naqueles anos andava no esquecimento. O Secretário da Capitular Loja Maçônica “Triumpho e União”, João Fernandes da Silva, seguindo determinações do Dr. Carlos Reis, Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil, a qual estava subordinada a Loja de Descalvado, reuniu-se com o Pároco de Descalvado, o gaúcho Francisco Teixeira de Vasconcellos Braga, e acertaram a realização de uma conferência pública sobre a tese: “O casamento civil”, escolhendo para dissertar sobre o tema, o maçon Dr. Ângelo Tourinho de Bittencourt, renomado advogado do fórum local e ilustre “pedreiro livre” da “Triumpho e União”. A palestra foi realizada na sede da Loja Maçônica, que ficava na rua Áurea, num domingo do ano de 1902, às 19 horas.
Muitos não compareceram a palestra, porque o Bar do Marcelo que ficava no centro da cidade, lançava naquela noite como novidade, cerveja gelada das marcas: Fumagali, Sassi, Tirolim, Gargantini, Brambilla e Tamanduá, todas fabricadas em Descalvado e vendidas a 1$200 a unidade, mais caras que os vinhos italianos e portugueses, que custavam na época $800 Réis. Até então a cerveja era servida na temperatura natural. O gelo era fabricado no Empório Familiar de Maria Paraventi, que aceitava encomendas pelo telefone 15, fazendo entregas a domicílio.